De todos os sítios de Lisboa em que tive que escolher se queria ou não, manteiga na sandes de queijo, este é de longe o mais bonito. Aliás, se a Padeira de Aljubarrota aqui tivesse trabalhado, em vez de ter andado a malhar nos castelhanos tinha inventado uma religião (que a beleza deste lugar liberta os vapores místicos da inspiração).
A Padaria de S.Roque também conhecida por Catedral do Pão, é um templo edificado em devoção a essas refeições divinas que fazem o prelúdio às principais, que apesar de não serem as capitais, adoçam o coração dos lisboetas. Aqui, neste palacete fundado em 1840, chegam todos os dias em gulosa romaria, gentes esfomeadas à procura de pequenos-almoços açucarados e lanches anafados.
Mas esperem que eu já vou contar...
Tudo começa numa esquina daquelas que ninguém imagina que só se tem que empurrar para entrar. Fazendo com a mão a magia, a porta cede e lá dentro não dá para acreditar... são galos, abelhas, ovos e muitas espigas, semi gargulas aborrecidas e flores bem coloridas, são colunas quase corintias, plantas viçosas, jogos de espelhos, velhos candeeiros, armários secretos e pão. Muito pão, fresquinho e quente (sagrado paradoxo que só o pão consegue).
A corte que aqui trabalha também é digna de atenção. Nas teclas da registadora toca orgão, há 10 anos, o Sr. Luís, da entrada guardião, no púlpito lê seu jornal o Sr.Manuel, gerente da gente, vai para mais de 5 décadas, ao altar está a simpática Dona Conceição que há pelo menos 44 anos, barra, torra e corta o pão e para acabar a equipa, nem falta sacristão, a menina Catarina já conta com 6 anos de casa, e está ali para dar uma mão.
Eu bem avisei que tal era a inspiração que isto era capaz de acabar em sermão. A padeira agora já só bate em Castela se forem ovos mas continua a olhar para mim com a mesma questão...
- Ouça lá, mas quer ou não, manteiga no pão?
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